quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ao meu melhor amigo

Tudo o que eles sentiam era saudades, uma saudade doída, louca,
intensa. Ela sabia que daquele dia não passava, iriam se encontrar
depois de dois ou três meses separados, iriam matar as saudades,
conversar, rir feito loucos como sempre faziam, tinham uma sintonia
incrível, dessas que só os verdadeiros amigos tem, riam juntos sem que a
piada precisasse ser dita, faziam coisas, executavam ordens sem que as
palavras fossem necessárias, eram amigos, entendiam-se, amavam-se e isso
bastava.
Ela sentou na platéia, chegou adiantada para não correr riscos, o
instrumentista arranhava alguma coisa de música grega, algo barulhento e
sem muita harmonia, mas ela não se importou, seu objetivo era outro e o
pensamento voava longe, não precisou se virar para saber a hora em que
ele entrou, seu cheiro, seus passos já haviam o denunciado, ele a pegou
pelas mãos, aquelas mãos tão macias e grandes em contato com as dela,
aquelas mãos que tantas vezes ela usou para se acalmar, para dormir ou
apenas para segurar nas tardes chatas que passavam estudando algum
escritor desconhecido, saíram de fininho, atravessaram os corredores tão
conhecidos até encontrarem um lugar afastado, distante da platéia e do
barulho do irritante instrumentista. E aí caíram nos braços um do outro,
um abraço longo, cheio de significado e amor, seus corpos unidos, de
mãos dadas, as lágrimas misturando-se juntas, as bocas caladas, mas o
momento carregado de palavras que não precisavam serem ditas para serem
sentidas.
Esse foi o nosso quase último e mais bonito encontro, momentos que
vivemos juntos, coisas que eu nunca vou esquecer, coisas que são só tua
e minha, e que eu cuidarei para que nunca, nunca sejam esquecidas por
mim. Estamos longe, não nos falamos com a mesma intensidade de antes,
mas tu foi e sempre vai ser o meu melhor amigo, eu te amo, Rê!