quinta-feira, 3 de maio de 2012

Será que ele pensou???

Tudo começou lá por meados de 2000 e poucos com o MC Serginho e a
"dança do créu", não que antes as músicas não falassem de sexo, o assunto
é velho e vamos combinar que cantar sobre sexo, mulher e dor de corno já
rendeu rios de dinheiro pra muita gente por aí. Mas a " dança do créu" é
do meu tempo, tocava no rádio, nos carros e em todo o lugar por onde eu
passava, e nessa época eu já sabia que os bebês não eram deixados pela
cegonha, ao contrário de quando " ela faz a cobra subir, a cobra subir"
tocava nas rádios e eu na minha tenra idade cantava inocentemente por
aí.
Agora o negócio ficou sério, o que é que está acontecendo, eu lhes
pergunto, o que, alguém me diz? sem contar o " ai se eu te pego" cantado
em línguas que eu nem sabia que existiam, qual a necessidade de criar
tantas coisas idiotas pra falar de sexo, minha gente? o tal do
sertanejo universitário e o tal do "funknejo" criam a cada dia uma música
nova, é um tal de fazer o lê lê lê, fazer o tche tcherere tche, fazer o
tcha tcha, o tchu tchu tcha que não acaba mais!
Agora eu novamente lhes pergunto, pra que serve isso, pelamor de
Deus??? Suponho eu que sirva para poluir meus ouvidos, para me
incomodar, para me deixar indignada, mas serve também para fazer as
pobres criancinhas inocentes ( como eu, na época da cobra que subia)
sair cantando por aí, e é claro, para que na próxima vez que você for
fazer sexo com o seu parceiro ( a), escolha uma dessas coisas e
convide-o muito sensualmente para fazer o lê lê lê, tchu tchu tcha, ou o
que achar mais sexy, a variedade é grande e dá pra escolher e sair da
rotina...
E é, meu querido MC Serginho, tudo ainda pode piorar... oremos.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Cidade lotada, e eu vazia de ti

Ando pelas ruas lotadas da cidade, mas estou vazia, vazia da tua
presença, queria tê-lo agora, senti-lo, beija-lo, cheira-lo, queria a
tua risada, descontraída e límpida, queria a tua voz, tão doce e calma,
que a minha alma adora ouvir... Então vem, vem que eu sou toda tua, nua,
ou como você quiser. Vem, vem logo que eu te espero, me desespero, e te
quero, amor.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ao meu melhor amigo

Tudo o que eles sentiam era saudades, uma saudade doída, louca,
intensa. Ela sabia que daquele dia não passava, iriam se encontrar
depois de dois ou três meses separados, iriam matar as saudades,
conversar, rir feito loucos como sempre faziam, tinham uma sintonia
incrível, dessas que só os verdadeiros amigos tem, riam juntos sem que a
piada precisasse ser dita, faziam coisas, executavam ordens sem que as
palavras fossem necessárias, eram amigos, entendiam-se, amavam-se e isso
bastava.
Ela sentou na platéia, chegou adiantada para não correr riscos, o
instrumentista arranhava alguma coisa de música grega, algo barulhento e
sem muita harmonia, mas ela não se importou, seu objetivo era outro e o
pensamento voava longe, não precisou se virar para saber a hora em que
ele entrou, seu cheiro, seus passos já haviam o denunciado, ele a pegou
pelas mãos, aquelas mãos tão macias e grandes em contato com as dela,
aquelas mãos que tantas vezes ela usou para se acalmar, para dormir ou
apenas para segurar nas tardes chatas que passavam estudando algum
escritor desconhecido, saíram de fininho, atravessaram os corredores tão
conhecidos até encontrarem um lugar afastado, distante da platéia e do
barulho do irritante instrumentista. E aí caíram nos braços um do outro,
um abraço longo, cheio de significado e amor, seus corpos unidos, de
mãos dadas, as lágrimas misturando-se juntas, as bocas caladas, mas o
momento carregado de palavras que não precisavam serem ditas para serem
sentidas.
Esse foi o nosso quase último e mais bonito encontro, momentos que
vivemos juntos, coisas que eu nunca vou esquecer, coisas que são só tua
e minha, e que eu cuidarei para que nunca, nunca sejam esquecidas por
mim. Estamos longe, não nos falamos com a mesma intensidade de antes,
mas tu foi e sempre vai ser o meu melhor amigo, eu te amo, Rê!

sábado, 22 de outubro de 2011

Meu pai e a frase mais valiosa

Meu pai é um desses caras calados, quietos, sérios ou como preferir
denominar... Foram poucas as vezes que eu vi ele rir de gargalhar, foram
poucas as vezes que ele demonstrou algum carinho por alguém, foram raras
as vezes em que eu vi ele chorar, nunca foi um pai muito presente,
sempre esteve ali, nunca deixou faltar nada em casa, mas também nunca
perguntou como eu ia na escola, em que série eu estava ou coisa do tipo,
na minha infância foram raras as vezes em que ele brincou comigo, lembro
que eu morria de inveja das minhas amigas que tinham pais brincalhões e
participativos, e eu demorei muitos, muitos anos para entende-lo, achava
que ele não gostava de mim, que eu não cumpria suas expectativas ou que
sei lá, ele não queria ter uma filha, já que eu tenho apenas irmãos.
Minha adolescência nesse aspecto foi muito complicada, ele raramente
falava comigo ( ou com qualquer um da casa), mas na época eu acreditava
que o problema estava em mim e fazia coisas que eu sabia que ele não
gostava só para ele vir falar diretamente comigo, nem que fosse para me
dar uma bronca.
Certa manhã na escola, quando eu tinha por volta de 13/14 anos, a
professora de artes ia presentear o aluno que construisse a melhor obra
de arte, e lá fui eu, tentar fazer alguma coisa na esperança de levar o
brinde, eu era muito " boca dura" e tinha muitos problemas com o
coordenador da minha escola, talvez por minha vida não se resumir em
maquiagens e meninos bonitos como as das outras alunas da minha idade,
eu lia muito desde então, e eu e o coordenador frequentemente entravamos
em conflito verbal, acredito hoje que ele fazia aquilo para me testar, e
teve lá sua importância, aprendi que eu precisava argumentar e discutir
se estava interessada em uma vitória verbal. Como eu disse, eu como
todos queria levar o presente, e estava tentando construir alguma coisa
bonita, que me fizesse ganhar, o tal coordenador entra na sala e vai até
minha mesa, começa a rir e joga meus recortes de revista fora, alegando
que eu era cega e não podia fazer um trabalho de arte. Eu que estava na
adolescência, naquela fase toda de me aceitar como tal levei na cara e
fiquei muito magoada, esperei ele sair, corri da sala e pulei o muro da
escola para casa, já que eu morava no outro lado da rua.
Entrei em casa, me joguei no sofá e chorei por muito tempo, um choro
doído, do tipo que se chora poucas vezes na vida, não sei em que momento
ele apareceu ali, não lembro se ele perguntou alguma coisa, só lembro
que ele me abraçou ( um dos raros abraços que ele me deu) e ficou
acariciando meus cabelos até eu me acalmar, acho que ficamos muito tempo
nisso, eu sentia meus olhos doídos e minha garganta irritada quando
consegui ficar mais calma, ele não perguntou o motivo ( se o fez, eu não
lembro), ele não me perguntou quem havia me feito chorar, talvez ele já
soubesse, talvez ele tenha seguido aquele instinto que os pais dizem
ter, talvez ele me conhecesse mais do que eu imaginava, ou talvez ele
resolveu só arriscar um palpite, ele beijou minha testa e disse que não
era para eu chorar, que eu era capaz e podia ser tudo aquilo que eu
desejasse se eu fosse atrás.
Lembrei dessa história agora, me arrependo de não ter lembrado
antes, creio que minha memória tenha prendido esse fato e soltado agora,
no momento mais correto, no momento que eu estou mudando, que eu estou
indo a caminho do novo e desconhecido, no momento que eu estou alguns
passos afrente, na longa caminhada que terei que percorrer para realizar
meus objetivos. Nós nunca conversamos muito, nós nunca fomos amigos, mas
ele soube, no pior momento, mesmo sem eu esperar, me dizer de forma
simples, tudo aquilo que eu precisava ouvir para a vida toda, obrigada,
pai.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Uma pobre cega nas desafiadoras provas do Enem

E amanhã é dia de prova do Enem e preciso admitir que isso me dá
frio na barriga, feio, uma pessoa do meu tamanho e idade tendo friozinho
na barriga por uma provinha qualquer, mas é essa a realidade, sinto frio
na barriga quando penso no Enem, e irei relatar minha terrível
experiência do ano anterior.
Quando me inscrevi no dito cujo, marquei lá que era cega, que
precisava de atendimento especial e bla, bla, bla, estava inscrita no
exame, um tempo depois, recebi uma ligação do MEC perguntando do que
exatamente eu precisava, prova em Braille, computador adaptado e essas
coisas, na hora fiquei muito feliz, computador para fazer a redação era
tudo que eu poderia querer, e já que estavam oferecendo um seria ótimo.
Chego no dia da prova e me levam para a dita " sala especial",
pergunto pelo meu computador e cadê? onde está o meu lindo
computadorzinho?, é, ele não veio... E eu na esperança de usar o
computador não pedi prova em Braille e me fodi... Passado esse "
pequeno" probleminha começa a prova, e minha ledora querida queria minha
caneta azul ( ou preta?), veja bem, euzinha aqui, cega, sonhando com um
computador para fazer a prova, qual motivo me faria levar uma caneta
para o exame???? após umas caras de bunda da ledora, caneta emprestada
da sala ao lado, começa a prova... Uma das ledoras lia muito bem, era
jornalista, tinha uma voz boa e tal, mas ah, minha gente, estava eu numa
sala enorme, apenas eu e a ledora ali, um silêncio total nos corredores,
uns passarinhos cantando suavemente na janela, o sono foi inevitável, eu
meio que parava de ouvir a ledora e me " ligava" quando ela tava
perguntando a resposta certa, e aí, para não ter que passar por tudo
outra vez eu dizia qualquer letra e partia para a próxima questão
torturante, eu não consigo mesmo ficar atenta com alguém lendo para mim
o tempo todo, no começo até vai, mas depois que acostumo com a voz é um
martírio, e foi assim a prova toda, ah! e preciso comentar das questões
com figuras...A fiscal das salas especiais veio me contar toda alegre,
que esse ano as provas especiais tinham descrições de figuras, que tudo
ia ser mais fácil e lindo, e eu acreditei, e me fodi outra vez. veja
bem, eu sou cega, sempre fui cega e nunca vi coisa alguma com os olhos
:D uma das questões era sobre um jogo de futebol, a figura descrevia os
jogadores com os braços levantados, joelhos dobrados e sei lá mais o
que, e era para responder o que eles estavam fazendo, eu tive que rir
dessa questão, o idiota que fez essa descrição certamente estava rindo
da minha cara, se eu sou cega, se eu nunca vi um jogo de futebol na
vida, qual é, qual é pelo amor de jesuis perguntar o que o jogador está
fazendo com os braços levantados e joelhos dobrados???? ( fato que eu
chutei qualquer coisa), tinham outras questões bem descritas assim na
prova, fora as tabelas e gráficos de matemática que as descrições
estavam de dar pena e eu novamente tive que chutar tudo, mas algo que me
irritou mesmo foi a redação, maldita redação, maldito exame, maldita
ledora. A infeliz fez eu soletrar palavra por palavra da minha redação,
eu entendo que a escrita é importante, eu entendo que isso é avaliado e
tudo o mais, mas se alguém tem a habilidade de ditar um texto, coisa que
eu já acho uma droga e ainda ter que soletrar tudo, parabéns, eu,
infelizmente não possuo essa característica e devo ter feito a redação
mais lixo possível.
Eu odiei a experiência, sei que muitos colegas cegos tiveram vários
problemas como eu, teve ledor que não apareceu no dia e o cego se
ferrou, teve cego que pediu prova em Braille e não recebeu, teve cego
que não conseguiu chegar até o local da prova, e muitos outros
problemas, acho que o exame precisa melhorar absurdamente ainda, e já
que querem obrigar a fazer, que façam alguma coisa no mínimo prestável
então, eu nunca faria de boa vontade, só faço por ser pobre e precisar
do Fies para o próximo ano, sorte que não depende da nota, que
provavelmente a minha será vergonhosa caso eu tenha as mesmas
dificuldades do ano anterior, aos colegas que vão prestar a prova, boa
sorte, e toneladas de paciência para nós.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os sonhos e o falso limite

Todos nós temos sonhos, alguns grandes, outros de menores proporções
e possivelmente "alcançáveis", mas tem gente que sonha grande, e que é
chamado de louco, maluco, doente ou coisas do tipo pela sociedade. Foi
assim comigo, foi assim com muitos colegas de deficiência por aí, e vai
continuar sendo assim, infelizmente, lembro de certa vez quando era
criança, que a escola levou os alunos em uma palestra com um advogado
político de outro estado, eu que a bastante tempo já participava dos
movimentos realizados pelos cegos de Cascavel, fui toda empolgada, ao
contrário das outras crianças que achavam palestras chatas, sem sentido.
A palestra ocorreu normalmente, claro que na minha tenra idade de 10/11
anos eu não entendi muita coisa, mas mesmo assim adorei estar ali,
adorei poder participar daquilo, adorei simplesmente poder estar ali,
fazendo parte. Quando o palestrante abriu para questionamentos, eu
levantei a mão na hora a professora pulou da cadeira e começou a me dar
bronca, queria me impedir de falar, o palestrante no entanto desceu até
a plenária e foi até onde eu estava, lembro que era um senhor bem alto,
e que teve que se abaixar para falar comigo, ele perguntou o que eu
queria falar, e eu com medo da professora brigar comigo me recusei a
abrir a boca, ele insistiu um pouco, e eu disse que quando fosse grande
queria ser uma política ou advogada igual a ele, ele sorriu, alguns
deram boas risadas, e a professora me arrastou dali me levando para o
ônibus. Nunca entendi o motivo de ela ficar tão irritada, mas levei uma
bela bronca e tive que ouvir dela e da coordenadora que até para sonhar
tem um limite.
Eu sou rebelde e nunca limitei meus sonhos, sonho grande, enorme,
gigante, e para talvez realizar esse sonho em particular eu terei que
fazer um caminho mais longo do que eu poderia fazer se continuasse aqui
em Canoas e entrasse no curso de Ciências Políticas da Ulbra, mas por
não ter me adaptado aqui em Canoas e achar que Cascavel é o melhor para
mim no momento, meu caminho vai ser mais longo, mas eu espero daqui a
alguns anos chegar lá onde eu quero, e vou adorar poder ver essa
professora novamente, e contar para ela que para sonhar não existe
limites.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

(Enorme), um ponto de vista sobre os cegos de Canoas/Cascavel

Pessoal, eu venho comentando com alguns amigos, e até eventualmente
no Twitter sobre os cegos aqui de Canoas/ cegos lá de Cascavel, para que
não haja desentendimentos ou qualquer coisa do tipo, resolvi escrever
aqui para quem quiser ler o meu ponto de vista sobre os cegos de Canoas
e os cegos de Cascavel, antes de tudo saliento que não quero, de forma
alguma ofender os cegos do RS, não quero ofender os professores e
pessoas ligadas aos cegos de Canoas, nem defender os cegos de Cascavel,
é apenas um ponto de vista geral, e apenas dos cegos de Canoas, são
apenas fatos que eu pude perceber no tempo que convivi com eles baseado
na experiência que eu já tinha com os cegos de Cascavel, então, por
favor, sem paranoias.
Eu sempre fui cega, e desde sempre minha mãe me levou na escola
especial, onde eu aprendi a engatinhar, ler e escrever, usar o
computador, andar sozinha e tudo o mais, quando eu tinha uns oito ou
nove anos de idade, minha mãe me levava nas reuniões da associação de
cegos de Cascavel, que eram palestras, estudos e opiniões dos cegos
sobre o cotidiano, problemas sociais e assuntos de interesse geral, eu
não entendia nada, obviamente, mas posso dizer que sempre participei da
associação e isso foi muito importante para o meu crescimento como
pessoa.
A associação de Cascavel é mantida por um grupo de cegos, não
depende de filantropia e na verdade sempre repudiou esse tipo de ajuda,
os membros da associação na maioria trabalham, muitos possuem nível
superior, muitos são professores universitários e enfim, pessoas
socialmente ativas, que pegam o ônibus todos os dias, que trabalham e
sobrevivem com o seu salário mensal. E foi assim que eu cresci, foi
assim que eu fui educada, sempre acreditei que cegos podem trabalhar,
andar sozinhos, fazer faculdade, e serem pessoas independentes e
socialmente ativas, lá em Cascavel os cegos fazem parte da cidade, todos
os dias tem cegos andando independentemente, indo para o seu trabalho,
seguindo suas vidas.
Quando eu mudei para o RS, eu imaginava que aqui sim, por eu estar
tão próxima de uma grande capital seria o paraíso, imaginava cegos
inteligentissimos, pessoas muito superiores aos cegos de Cascavel,
imaginava uma associação maravilhosa, onde eu iria me encontrar e ser
compreendida, por mais que eu elogie os cegos de Cascavel, eu não
concordo com muitas, muitas de suas opiniões, apesar de os admirar
imensamente, pelo que são e o que conseguiram como pessoas.
Quando eu cheguei aqui a primeira coisa que notei é que quase não se
via cegos pelas ruas, demorei algumas semanas para ouvir o primeiro cego
bengalante, e já comecei a achar tudo muito estranho, as pessoas ficavam
perplexas com a minha desenvoltura, segundo elas os cegos daqui andavam
com medo e com passos curtos, o que me fez estranhar ainda mais, quando
eu fui conhecer a associação daqui, eu quase tive um tréco, a associação
é totalmente mantida por caridade/voluntários, o que já me deixou muito
desconfiada, o presidente é cego, mas quem manda mesmo são as
professoras e voluntárias, os cegos são presos, muito, muito inferiores
aos cegos de Cascavel, ali ninguém trabalha, pouquíssimos estudam,
pouquíssimos andam sozinhos, mais poucos ainda são os que vivem sozinho
com independência, e o que me deixou perplexa, quase nenhum dos cegos
conhece informática, raros são os que sabem o dosvox, e não é por falta
de estrutura, a entidade tem um batalhão de voluntários, e um espaço
físico que daria inveja a nossa modesta salinha em Cascavel.
Fiquei desconfiada, mas resolvi participar, vai que eu era a louca
paranoica e o negócio era bom, o pessoal é muito bacana, todos foram
muito educados e queridos comigo, minha crítica não é sobre ninguém em
especial, e sim sobre o desenvolvimento da associação como um todo. A
associação tem várias aulas, teatro, música e artesanato são algumas,
isso é positivo? claro que é positivo se fosse bem administradas, não em
relação aos professores e voluntários, claro que não, mas no sentido de
serem enriquecedoras, de complementarem algo que ali não existe, fazer
artesanato, bancar o músico ou ator é ótimo, mas o mundo não para por
aí, principalmente as pessoas com deficiência precisam ser instruídas,
precisam lutar pelos seus direitos, precisam mostrar para a nossa
sociedade que somos sim capazes, que somos pessoas normais como todos, e
realmente ficar brincando de casinha não vai conquistar nada disso, a
vida de um deficiente é uma constante luta, é uma constante superação, e
se deixarmos sermos manipulados por voluntários que acreditam que o cego
é um pobre coitadinho isso nunca vai acontecer, e o pior de tudo é que
ali na associação de Canoas os cegos se deixaram manipular, se
acostumaram com a imagem de cego coitadinho e a mantém sem esforço,
poucos são os que querem mudar, poucos seriam os que aceitariam minha
crítica de uma forma positiva, e isso é muito, muito triste, é muito
triste saber que uma associação que tinha tudo para ser uma ótima
associação é mantida e manipulada por professores e voluntários, é
triste saber que tantas pessoas jovens como eu não vão progredir mais do
que progrediram até aqui por simples falta de vontade ou falta de crença
em si mesmo, é triste saber que a sociedade Canoense enxerga de uma
maneira tão piedosa e negativa os cegos da cidade, por puro desleixo e
falta de vontade deles próprios, é triste que eles dependam tanto de
caridade, talvez por comodismo, talvez por falta de coragem para dizer
um basta e tentar andar com as próprias pernas, é triste que muitos
deles não tenham acesso ao vasto mundo que a tecnologia dos leitores de
telas poderia trazer, é triste saber que eles não usam as aulas de arte,
que poderiam ser tão positivas e benéficas, mas sim como uma forma de
alienação, é triste saber que pessoas tão jovens, pessoas com um grande
potencial não vão ser aproveitadas, por simples comodismo. Eu realmente
lamento muito, gostaria mesmo de ter podido fazer algo, gostaria mesmo
de ter podido mostrar para essas pessoas que o mundo é muito mais amplo
e vasto do que aquilo que eles conhecem, mas sozinha eu não faria nada,
se eu falasse tudo isso para o presidente provavelmente seria posta para
fora como uma louca causadora de confusão, então, só me resta lamentar e
torcer muito para que essas pessoas possam ser melhores um dia.