terça-feira, 29 de março de 2011

Pequenas histórias, parte 3 de infinitas

Chovia forte, sua figura contra a janela era invisível para quem
olhava do lado de fora. ela estava ali já fazia horas, ficou remoendo os
fatos amargamente, ele havia ido embora, e ela sabia que era para
sempre. tinham brigado, é verdade, ela falou coisas horríveis e ele mais
ainda, gritaram um com o outro até suas gargantas ficarem doloridas, ele
acusava ela e suas futilidades pelo término do relacionamento, ela
acusava ele e sua falta de tempo. quando ambos concluiram que só estavam
se ferindo ainda mais, pararam de discutir, ele, ainda irritado foi
fazer as malas, e ela machucada, apenas chorou. ficou parada na janela
olhando ele partir, viu a chuva caindo, viu ele colocar as malas no
carro, viu ele abrindo o portão e saindo, gritou por ele, gritou e
gritou, mas os sons provocados pela forte chuva impediram que sua voz,
já cansada chegasse até ele. e então ele foi embora... apesar do
relacionamento ter acabado, ela ainda o amava, não o mesmo amor de
antes, mas ainda o amava de alguma forma. continuou olhando pela janela,
e agora ela já não sabia mais o que molhava seu rosto, se era a água da
forte chuva, ou se eram suas lágrimas, que brotavam em cascata de seus
olhos.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Presenteia-me

Corre pela vastidão das tuas memórias e volta aqui, desenha nosso
amor numa tela e me entrega, transforma teus desejos em ação e
realiza-os comigo, deslisa na lembrança do meu sorriso que eu sorrio
outra vez, canta a nossa canção que eu danço contigo, constrói teus
sonhos lentamente e me inclua em todos, me guia pelos caminhos da tua
vida que eu te dou a mão, entra de rompante no meu mundo que ele está
guardado só pra você...

Pequenas histórias, parte 2 de infinitas

Naquele dia ele chegou tarde, tão tarde como não chegava a muito
tempo, era uma pessoa influenciável, e fora esse maldito defeito que o
fizera beber alem da conta, sempre havia um ótimo amigo para encher sua
taça de vinho, sempre tem um amigo para convidar para uma doze de
conhaque. entrou em casa, acendeu as luzes, cambaleou até a sala, e lá
parou e fixou o enorme quadro com olhar apaixonado. seu coração sempre
se apertava ao olhar para aquela imagem, a mulher tão bem desenhada, de
pele alva e longos cabelos dourados, emoldurados por um rosto delicado,
olhos azuis e lábios rosados, usava um lindo vestido branco, que
contrastava perfeitamente com o corpo de curvas femininas e sensuais, e
ele pensava: " ah, se pudesses deixar esse quadro e dançar comigo!" e
como em um sonho, viu a mulher abandonar a moldura dourada da parede e
aproximar-se dele com andar lento e provocante, uma doce melodia surgiu
no ar, e ele e a linda mulher rodopiaram em perfeita sincronia pela
vasta sala, ele sentia o cheiro suave dela, o corpo moldado no dele, o
toque suave do vestido, e seu coração transbordava de amor, um amor tão
grande e profundo, que o obrigava a aperta-la com força no seu próprio
corpo. a música findou derrepente , ela enlaçou o pescoço dele, e
audaciosamente lhe ofereceu os lábios rosados, e então ele acordou,
estava no chão da sala, completamente vestido, e concluiu que pegara no
sono antes de rumar para o quarto. e a mulher do quadro continuava lá,
tão perfeita e bela como ele havia sonhado, mas continuou parada,
fixando o nada, envolvida pela moldura dourada do quadro na parede.

domingo, 27 de março de 2011

Divagações sobre um piano.

Abro minha alma diante dessas teclas antigas, meus dedos correm
suavemente pelas notas no piano, dentro de mim, a tão incrível
felicidade que sempre me acompanha quando desliso pelas notas, é nessas
teclas antigas que eu me encontro, me perco e me encontro novamente, só
para me perder outra vez em alguma partitura esquecida. sentada diante
do piano deixo meus sentimentos fluírem livremente, todos os que escondo
das pessoas tão habilmente, aqui os deixo saírem, os deixo
transformarem-se em melodia, em música límpida. em muitos momentos, meu
sorriso e minhas lágrimas se misturam de uma forma tão louca que eu não
consigo mais separa-los, e é então que a música vai saindo perfeita, sem
partitura, sem forçar o pensamento. apenas solto minha mão e deixo a
música me bater como uma onda forte, deixo as notas correrem livres,
deixo tudo o que sou escondido nessas teclas antigas do piano, até eu me
sentar aqui novamente, juntar os restos que sobraram, e compor uma nova
música.

Pequenas histórias, parte 1 de infinitas

Ela o esperava
deitada no sofá, ouvindo um CD de Jazz,
trajava uma sexi camisola de renda vermelha, por baixo disso, estava
nua.
o tecido vermelho fazia contraste perfeito com a pele imaculadamente
branca e aveludada,
cabelos soltos, corpo esticado em uma posição lânguida, ela o esperava.
essa noite ela queria surpreende-lo,
vinho gelando, morangos frescos, ambiente a meia luz,
música baixinha, um cheiro de incenso,
era o cenário perfeito para a transa louca que insistia em povoar seus
pensamentos.
ela o esperava. já haviam se passado mais de duas horas do horário
habitual de sua chegada,
será que ele estava bem?
será que aconteceu alguma coisa?
ela se perguntava, entre pensamentos que se mesclavam entre transas deliciosas e uma
preocupação amorosa.
até que enfim ele chegou,
ela ouviu com ansiedade crescente a chave girar, o fechar suave da
porta, os passos seguros dele na entrada,
já imaginava ele entrando de rompante, beijando-a com desejo, tirando
sua camisola vermelha e possuindo-a, ali mesmo, em cima do sofá.
já imaginava os sussurros, as carícias, e o calor aumentava entre suas
pernas.
ele apareceu na sala, ligou a luz bruscamente, e um pouco do encanto do
ambiente instantaneamente desapareceu,
disse um olá sem emoção, desligou o CD de Jazz e ligou a TV no futebol,
caminhou para a cozinha, voltou de lá trazendo uma generosa taça de
vinho e a tigela de morangos,
sentou-se no outro sofá, bebeu o vinho e comeu os morangos,
e só depois do futebol acabar, dos morangos e o vinho também terem
acabado foi que ele olhou para ela diretamente.
ria as gargalhadas dos trajes dela, chamou-a de inadequada, gorda e
muito velha para essas coisas,
ainda rindo, a fez levantar do sofá, ergueu a camisola e deu-lhe um
violento tapa no traseiro,
não preocupou-se em recolocar a camisola no lugar, e pediu para que ela
preparasse o jantar.
engolindo a frustração e o ódio ela foi para a cozinha, a raiva
fazendo-a borbulhar, preparou o jantar com o mesmo cuidado de sempre,
arrumou tudo em uma bandeja,
e antes de deixar a cozinha pegou o telefone,
ligou para aquele colega de trabalho encantador que a vários meses a
convidava insistentemente para sair,
arrependeu-se de nunca ter aceitado, bastou uma frase e tudo estava
feito,
foram poucas palavras ditas por ela,
apenas um:
" me espere amanhã após o expediente no motel da quadra ao lado."