quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ao meu melhor amigo

Tudo o que eles sentiam era saudades, uma saudade doída, louca,
intensa. Ela sabia que daquele dia não passava, iriam se encontrar
depois de dois ou três meses separados, iriam matar as saudades,
conversar, rir feito loucos como sempre faziam, tinham uma sintonia
incrível, dessas que só os verdadeiros amigos tem, riam juntos sem que a
piada precisasse ser dita, faziam coisas, executavam ordens sem que as
palavras fossem necessárias, eram amigos, entendiam-se, amavam-se e isso
bastava.
Ela sentou na platéia, chegou adiantada para não correr riscos, o
instrumentista arranhava alguma coisa de música grega, algo barulhento e
sem muita harmonia, mas ela não se importou, seu objetivo era outro e o
pensamento voava longe, não precisou se virar para saber a hora em que
ele entrou, seu cheiro, seus passos já haviam o denunciado, ele a pegou
pelas mãos, aquelas mãos tão macias e grandes em contato com as dela,
aquelas mãos que tantas vezes ela usou para se acalmar, para dormir ou
apenas para segurar nas tardes chatas que passavam estudando algum
escritor desconhecido, saíram de fininho, atravessaram os corredores tão
conhecidos até encontrarem um lugar afastado, distante da platéia e do
barulho do irritante instrumentista. E aí caíram nos braços um do outro,
um abraço longo, cheio de significado e amor, seus corpos unidos, de
mãos dadas, as lágrimas misturando-se juntas, as bocas caladas, mas o
momento carregado de palavras que não precisavam serem ditas para serem
sentidas.
Esse foi o nosso quase último e mais bonito encontro, momentos que
vivemos juntos, coisas que eu nunca vou esquecer, coisas que são só tua
e minha, e que eu cuidarei para que nunca, nunca sejam esquecidas por
mim. Estamos longe, não nos falamos com a mesma intensidade de antes,
mas tu foi e sempre vai ser o meu melhor amigo, eu te amo, Rê!

sábado, 22 de outubro de 2011

Meu pai e a frase mais valiosa

Meu pai é um desses caras calados, quietos, sérios ou como preferir
denominar... Foram poucas as vezes que eu vi ele rir de gargalhar, foram
poucas as vezes que ele demonstrou algum carinho por alguém, foram raras
as vezes em que eu vi ele chorar, nunca foi um pai muito presente,
sempre esteve ali, nunca deixou faltar nada em casa, mas também nunca
perguntou como eu ia na escola, em que série eu estava ou coisa do tipo,
na minha infância foram raras as vezes em que ele brincou comigo, lembro
que eu morria de inveja das minhas amigas que tinham pais brincalhões e
participativos, e eu demorei muitos, muitos anos para entende-lo, achava
que ele não gostava de mim, que eu não cumpria suas expectativas ou que
sei lá, ele não queria ter uma filha, já que eu tenho apenas irmãos.
Minha adolescência nesse aspecto foi muito complicada, ele raramente
falava comigo ( ou com qualquer um da casa), mas na época eu acreditava
que o problema estava em mim e fazia coisas que eu sabia que ele não
gostava só para ele vir falar diretamente comigo, nem que fosse para me
dar uma bronca.
Certa manhã na escola, quando eu tinha por volta de 13/14 anos, a
professora de artes ia presentear o aluno que construisse a melhor obra
de arte, e lá fui eu, tentar fazer alguma coisa na esperança de levar o
brinde, eu era muito " boca dura" e tinha muitos problemas com o
coordenador da minha escola, talvez por minha vida não se resumir em
maquiagens e meninos bonitos como as das outras alunas da minha idade,
eu lia muito desde então, e eu e o coordenador frequentemente entravamos
em conflito verbal, acredito hoje que ele fazia aquilo para me testar, e
teve lá sua importância, aprendi que eu precisava argumentar e discutir
se estava interessada em uma vitória verbal. Como eu disse, eu como
todos queria levar o presente, e estava tentando construir alguma coisa
bonita, que me fizesse ganhar, o tal coordenador entra na sala e vai até
minha mesa, começa a rir e joga meus recortes de revista fora, alegando
que eu era cega e não podia fazer um trabalho de arte. Eu que estava na
adolescência, naquela fase toda de me aceitar como tal levei na cara e
fiquei muito magoada, esperei ele sair, corri da sala e pulei o muro da
escola para casa, já que eu morava no outro lado da rua.
Entrei em casa, me joguei no sofá e chorei por muito tempo, um choro
doído, do tipo que se chora poucas vezes na vida, não sei em que momento
ele apareceu ali, não lembro se ele perguntou alguma coisa, só lembro
que ele me abraçou ( um dos raros abraços que ele me deu) e ficou
acariciando meus cabelos até eu me acalmar, acho que ficamos muito tempo
nisso, eu sentia meus olhos doídos e minha garganta irritada quando
consegui ficar mais calma, ele não perguntou o motivo ( se o fez, eu não
lembro), ele não me perguntou quem havia me feito chorar, talvez ele já
soubesse, talvez ele tenha seguido aquele instinto que os pais dizem
ter, talvez ele me conhecesse mais do que eu imaginava, ou talvez ele
resolveu só arriscar um palpite, ele beijou minha testa e disse que não
era para eu chorar, que eu era capaz e podia ser tudo aquilo que eu
desejasse se eu fosse atrás.
Lembrei dessa história agora, me arrependo de não ter lembrado
antes, creio que minha memória tenha prendido esse fato e soltado agora,
no momento mais correto, no momento que eu estou mudando, que eu estou
indo a caminho do novo e desconhecido, no momento que eu estou alguns
passos afrente, na longa caminhada que terei que percorrer para realizar
meus objetivos. Nós nunca conversamos muito, nós nunca fomos amigos, mas
ele soube, no pior momento, mesmo sem eu esperar, me dizer de forma
simples, tudo aquilo que eu precisava ouvir para a vida toda, obrigada,
pai.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Uma pobre cega nas desafiadoras provas do Enem

E amanhã é dia de prova do Enem e preciso admitir que isso me dá
frio na barriga, feio, uma pessoa do meu tamanho e idade tendo friozinho
na barriga por uma provinha qualquer, mas é essa a realidade, sinto frio
na barriga quando penso no Enem, e irei relatar minha terrível
experiência do ano anterior.
Quando me inscrevi no dito cujo, marquei lá que era cega, que
precisava de atendimento especial e bla, bla, bla, estava inscrita no
exame, um tempo depois, recebi uma ligação do MEC perguntando do que
exatamente eu precisava, prova em Braille, computador adaptado e essas
coisas, na hora fiquei muito feliz, computador para fazer a redação era
tudo que eu poderia querer, e já que estavam oferecendo um seria ótimo.
Chego no dia da prova e me levam para a dita " sala especial",
pergunto pelo meu computador e cadê? onde está o meu lindo
computadorzinho?, é, ele não veio... E eu na esperança de usar o
computador não pedi prova em Braille e me fodi... Passado esse "
pequeno" probleminha começa a prova, e minha ledora querida queria minha
caneta azul ( ou preta?), veja bem, euzinha aqui, cega, sonhando com um
computador para fazer a prova, qual motivo me faria levar uma caneta
para o exame???? após umas caras de bunda da ledora, caneta emprestada
da sala ao lado, começa a prova... Uma das ledoras lia muito bem, era
jornalista, tinha uma voz boa e tal, mas ah, minha gente, estava eu numa
sala enorme, apenas eu e a ledora ali, um silêncio total nos corredores,
uns passarinhos cantando suavemente na janela, o sono foi inevitável, eu
meio que parava de ouvir a ledora e me " ligava" quando ela tava
perguntando a resposta certa, e aí, para não ter que passar por tudo
outra vez eu dizia qualquer letra e partia para a próxima questão
torturante, eu não consigo mesmo ficar atenta com alguém lendo para mim
o tempo todo, no começo até vai, mas depois que acostumo com a voz é um
martírio, e foi assim a prova toda, ah! e preciso comentar das questões
com figuras...A fiscal das salas especiais veio me contar toda alegre,
que esse ano as provas especiais tinham descrições de figuras, que tudo
ia ser mais fácil e lindo, e eu acreditei, e me fodi outra vez. veja
bem, eu sou cega, sempre fui cega e nunca vi coisa alguma com os olhos
:D uma das questões era sobre um jogo de futebol, a figura descrevia os
jogadores com os braços levantados, joelhos dobrados e sei lá mais o
que, e era para responder o que eles estavam fazendo, eu tive que rir
dessa questão, o idiota que fez essa descrição certamente estava rindo
da minha cara, se eu sou cega, se eu nunca vi um jogo de futebol na
vida, qual é, qual é pelo amor de jesuis perguntar o que o jogador está
fazendo com os braços levantados e joelhos dobrados???? ( fato que eu
chutei qualquer coisa), tinham outras questões bem descritas assim na
prova, fora as tabelas e gráficos de matemática que as descrições
estavam de dar pena e eu novamente tive que chutar tudo, mas algo que me
irritou mesmo foi a redação, maldita redação, maldito exame, maldita
ledora. A infeliz fez eu soletrar palavra por palavra da minha redação,
eu entendo que a escrita é importante, eu entendo que isso é avaliado e
tudo o mais, mas se alguém tem a habilidade de ditar um texto, coisa que
eu já acho uma droga e ainda ter que soletrar tudo, parabéns, eu,
infelizmente não possuo essa característica e devo ter feito a redação
mais lixo possível.
Eu odiei a experiência, sei que muitos colegas cegos tiveram vários
problemas como eu, teve ledor que não apareceu no dia e o cego se
ferrou, teve cego que pediu prova em Braille e não recebeu, teve cego
que não conseguiu chegar até o local da prova, e muitos outros
problemas, acho que o exame precisa melhorar absurdamente ainda, e já
que querem obrigar a fazer, que façam alguma coisa no mínimo prestável
então, eu nunca faria de boa vontade, só faço por ser pobre e precisar
do Fies para o próximo ano, sorte que não depende da nota, que
provavelmente a minha será vergonhosa caso eu tenha as mesmas
dificuldades do ano anterior, aos colegas que vão prestar a prova, boa
sorte, e toneladas de paciência para nós.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os sonhos e o falso limite

Todos nós temos sonhos, alguns grandes, outros de menores proporções
e possivelmente "alcançáveis", mas tem gente que sonha grande, e que é
chamado de louco, maluco, doente ou coisas do tipo pela sociedade. Foi
assim comigo, foi assim com muitos colegas de deficiência por aí, e vai
continuar sendo assim, infelizmente, lembro de certa vez quando era
criança, que a escola levou os alunos em uma palestra com um advogado
político de outro estado, eu que a bastante tempo já participava dos
movimentos realizados pelos cegos de Cascavel, fui toda empolgada, ao
contrário das outras crianças que achavam palestras chatas, sem sentido.
A palestra ocorreu normalmente, claro que na minha tenra idade de 10/11
anos eu não entendi muita coisa, mas mesmo assim adorei estar ali,
adorei poder participar daquilo, adorei simplesmente poder estar ali,
fazendo parte. Quando o palestrante abriu para questionamentos, eu
levantei a mão na hora a professora pulou da cadeira e começou a me dar
bronca, queria me impedir de falar, o palestrante no entanto desceu até
a plenária e foi até onde eu estava, lembro que era um senhor bem alto,
e que teve que se abaixar para falar comigo, ele perguntou o que eu
queria falar, e eu com medo da professora brigar comigo me recusei a
abrir a boca, ele insistiu um pouco, e eu disse que quando fosse grande
queria ser uma política ou advogada igual a ele, ele sorriu, alguns
deram boas risadas, e a professora me arrastou dali me levando para o
ônibus. Nunca entendi o motivo de ela ficar tão irritada, mas levei uma
bela bronca e tive que ouvir dela e da coordenadora que até para sonhar
tem um limite.
Eu sou rebelde e nunca limitei meus sonhos, sonho grande, enorme,
gigante, e para talvez realizar esse sonho em particular eu terei que
fazer um caminho mais longo do que eu poderia fazer se continuasse aqui
em Canoas e entrasse no curso de Ciências Políticas da Ulbra, mas por
não ter me adaptado aqui em Canoas e achar que Cascavel é o melhor para
mim no momento, meu caminho vai ser mais longo, mas eu espero daqui a
alguns anos chegar lá onde eu quero, e vou adorar poder ver essa
professora novamente, e contar para ela que para sonhar não existe
limites.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

(Enorme), um ponto de vista sobre os cegos de Canoas/Cascavel

Pessoal, eu venho comentando com alguns amigos, e até eventualmente
no Twitter sobre os cegos aqui de Canoas/ cegos lá de Cascavel, para que
não haja desentendimentos ou qualquer coisa do tipo, resolvi escrever
aqui para quem quiser ler o meu ponto de vista sobre os cegos de Canoas
e os cegos de Cascavel, antes de tudo saliento que não quero, de forma
alguma ofender os cegos do RS, não quero ofender os professores e
pessoas ligadas aos cegos de Canoas, nem defender os cegos de Cascavel,
é apenas um ponto de vista geral, e apenas dos cegos de Canoas, são
apenas fatos que eu pude perceber no tempo que convivi com eles baseado
na experiência que eu já tinha com os cegos de Cascavel, então, por
favor, sem paranoias.
Eu sempre fui cega, e desde sempre minha mãe me levou na escola
especial, onde eu aprendi a engatinhar, ler e escrever, usar o
computador, andar sozinha e tudo o mais, quando eu tinha uns oito ou
nove anos de idade, minha mãe me levava nas reuniões da associação de
cegos de Cascavel, que eram palestras, estudos e opiniões dos cegos
sobre o cotidiano, problemas sociais e assuntos de interesse geral, eu
não entendia nada, obviamente, mas posso dizer que sempre participei da
associação e isso foi muito importante para o meu crescimento como
pessoa.
A associação de Cascavel é mantida por um grupo de cegos, não
depende de filantropia e na verdade sempre repudiou esse tipo de ajuda,
os membros da associação na maioria trabalham, muitos possuem nível
superior, muitos são professores universitários e enfim, pessoas
socialmente ativas, que pegam o ônibus todos os dias, que trabalham e
sobrevivem com o seu salário mensal. E foi assim que eu cresci, foi
assim que eu fui educada, sempre acreditei que cegos podem trabalhar,
andar sozinhos, fazer faculdade, e serem pessoas independentes e
socialmente ativas, lá em Cascavel os cegos fazem parte da cidade, todos
os dias tem cegos andando independentemente, indo para o seu trabalho,
seguindo suas vidas.
Quando eu mudei para o RS, eu imaginava que aqui sim, por eu estar
tão próxima de uma grande capital seria o paraíso, imaginava cegos
inteligentissimos, pessoas muito superiores aos cegos de Cascavel,
imaginava uma associação maravilhosa, onde eu iria me encontrar e ser
compreendida, por mais que eu elogie os cegos de Cascavel, eu não
concordo com muitas, muitas de suas opiniões, apesar de os admirar
imensamente, pelo que são e o que conseguiram como pessoas.
Quando eu cheguei aqui a primeira coisa que notei é que quase não se
via cegos pelas ruas, demorei algumas semanas para ouvir o primeiro cego
bengalante, e já comecei a achar tudo muito estranho, as pessoas ficavam
perplexas com a minha desenvoltura, segundo elas os cegos daqui andavam
com medo e com passos curtos, o que me fez estranhar ainda mais, quando
eu fui conhecer a associação daqui, eu quase tive um tréco, a associação
é totalmente mantida por caridade/voluntários, o que já me deixou muito
desconfiada, o presidente é cego, mas quem manda mesmo são as
professoras e voluntárias, os cegos são presos, muito, muito inferiores
aos cegos de Cascavel, ali ninguém trabalha, pouquíssimos estudam,
pouquíssimos andam sozinhos, mais poucos ainda são os que vivem sozinho
com independência, e o que me deixou perplexa, quase nenhum dos cegos
conhece informática, raros são os que sabem o dosvox, e não é por falta
de estrutura, a entidade tem um batalhão de voluntários, e um espaço
físico que daria inveja a nossa modesta salinha em Cascavel.
Fiquei desconfiada, mas resolvi participar, vai que eu era a louca
paranoica e o negócio era bom, o pessoal é muito bacana, todos foram
muito educados e queridos comigo, minha crítica não é sobre ninguém em
especial, e sim sobre o desenvolvimento da associação como um todo. A
associação tem várias aulas, teatro, música e artesanato são algumas,
isso é positivo? claro que é positivo se fosse bem administradas, não em
relação aos professores e voluntários, claro que não, mas no sentido de
serem enriquecedoras, de complementarem algo que ali não existe, fazer
artesanato, bancar o músico ou ator é ótimo, mas o mundo não para por
aí, principalmente as pessoas com deficiência precisam ser instruídas,
precisam lutar pelos seus direitos, precisam mostrar para a nossa
sociedade que somos sim capazes, que somos pessoas normais como todos, e
realmente ficar brincando de casinha não vai conquistar nada disso, a
vida de um deficiente é uma constante luta, é uma constante superação, e
se deixarmos sermos manipulados por voluntários que acreditam que o cego
é um pobre coitadinho isso nunca vai acontecer, e o pior de tudo é que
ali na associação de Canoas os cegos se deixaram manipular, se
acostumaram com a imagem de cego coitadinho e a mantém sem esforço,
poucos são os que querem mudar, poucos seriam os que aceitariam minha
crítica de uma forma positiva, e isso é muito, muito triste, é muito
triste saber que uma associação que tinha tudo para ser uma ótima
associação é mantida e manipulada por professores e voluntários, é
triste saber que tantas pessoas jovens como eu não vão progredir mais do
que progrediram até aqui por simples falta de vontade ou falta de crença
em si mesmo, é triste saber que a sociedade Canoense enxerga de uma
maneira tão piedosa e negativa os cegos da cidade, por puro desleixo e
falta de vontade deles próprios, é triste que eles dependam tanto de
caridade, talvez por comodismo, talvez por falta de coragem para dizer
um basta e tentar andar com as próprias pernas, é triste que muitos
deles não tenham acesso ao vasto mundo que a tecnologia dos leitores de
telas poderia trazer, é triste saber que eles não usam as aulas de arte,
que poderiam ser tão positivas e benéficas, mas sim como uma forma de
alienação, é triste saber que pessoas tão jovens, pessoas com um grande
potencial não vão ser aproveitadas, por simples comodismo. Eu realmente
lamento muito, gostaria mesmo de ter podido fazer algo, gostaria mesmo
de ter podido mostrar para essas pessoas que o mundo é muito mais amplo
e vasto do que aquilo que eles conhecem, mas sozinha eu não faria nada,
se eu falasse tudo isso para o presidente provavelmente seria posta para
fora como uma louca causadora de confusão, então, só me resta lamentar e
torcer muito para que essas pessoas possam ser melhores um dia.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Assumidamente moça do interior!

Sempre que eu viajava para Curitiba ou qualquer grande cidade, eu
ficava fascinada com aquilo tudo, aquela movimentação toda, muito
shopping, muitas lojas, muita gente diferente, uma festa o tempo todo.
Eu acreditava que só seria realmente feliz quando pudesse sair da minha
cidade com menos de 300 mil habitantes e morar num desses grandes
centros do Brasil.
E então que saí da minha cidade e estou a pouco menos de meia hora
de uma capital cheia das mesmas coisas que tanto me fascinava em
Curitiba, e aí que eu concluí que quero voltar para minha cidadezinha...
Quero voltar por adorar aquele lugar, por adorar o cheiro da minha
cidade ( não fede mijo como Porto Alegre), por adorar aqueles milhares
de passarinhos cantando todo inicio e final do dia, por adorar conhecer
todas as pessoas do meu bairro, por adorar receber um cumprimento delas
todas as manhãs, por adorar ser amiga de todos os comerciantes, do
padeiro ao vendedor de churros, por adorar o fato de lá só existir dois
shoppings ( que eu conheço cada milímetro), por adorar conhecer todos os
motoristas de ônibus, e o mais importante, por adorar me sentir parte
daquele lugar, por adorar a sensação de " voltar para casa", toda vez
que chego na cidade. Simplesmente por adorar o pertencimento que não
sinto aqui, e realmente preciso admitir: eu amo Cascavel, eu sou moça do
interior, feita para casar e ter muitos cachorros e filhos.
=D

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O que eu penso sobre os ceguinhos da Globo

E então que a TV Globo coloca mais um ceguinho em cena... sei que o
objetivo é mostrar para o público como é a vida de um cego, mas eu vejo
isso de uma forma bem negativa, muitos vão me criticar e achar que sou
louca, mas enfim. vocês devem lembrar, que a alguns anos atrás a Globo
colocou alguns cegos na novela das 8 ( que começa as 9), um dos cegos
usava cão-guia, o que achei bem interessante, e até comia algumas
mulheres no decorrer da novela, a outra era uma ceguinha pequena, que
fazia balé para cegos e sempre me pareceu o estilo ceguinha coitadinha
que todos admiram. A novela foi até interessante, um máximo usarem o
cão-guia, mostrar que o cego também transa e que as ceguinhas podem
fazer balé, mas o problema, o problema minha gente é o " povão", aquele
povão ignorante que acredita que cego é tudo igual, e que se um cego faz
alguma coisa todos os outros devem fazer, e é esse povo, composto por
donas de casa fofoqueiras e pessoas do tipo que assistem regularmente as
novelas da Globo, então, como cego é tudo igual e faz tudo igual, quando
eu saia na rua por ser mulher eu era a " Florzinha", nome da dita
personagem cega ( que não era digna de um nome decente) da novela, então
por onde eu passava sempre ouvia as mães: " filho, ela é igual a
Florzinha da novela", e eu pensava: " Florzinha o caralho!". Meu outro
amigo, por ser homem era o " Jatobá" ( olha outro nome desgraçado pro
cego fodido), então por onde ele passava sempre perguntavam pelo seu
cão-guia ou se ele tava comendo muitas atrizes Globais. passada minha
fase " Florzinha" ( ahn? ) a Globo marota colocou outra ceguinha na
novela das sete, essa ceguinha era super protegida, queria trabalhar e
não podia, queria dar e não podia, queria namorar e não podia, então as
pessoas sempre davam conselhos para a minha mãe ( que estava cagando
para o que eu queria fazer da vida), diziam que eu queria trabalhar (
ahn?) que ela tinha que deixar eu namorar, e que como a ceguinha da
novela eu merecia ser feliz com o amor da minha vida ( que ainda não
tinha aparecido), eu era constantemente parabenizada por querer
trabalhar ( ahn?), por lutar pela minha liberdade e por tentar ser
feliz, quando a ceguinha da novela engravidou, eu também engravidei com
ela, juro, tinha gente que me parava na rua para perguntar isso, e isso
é muito complicado. Então acredito que não é colocando ceguinhos nas
novelas ridículas da Globo que vai mudar alguma coisa no conceito das
pessoas, muitas vezes só piora. O novo ceguinho da Globo é um cara
descoladão, vai para a balada, usa internet, e eu espero que para o bem
da sexualidade dos colegas cegos, coma alguém até o fim da novela.
PS: Estava sem inspiração para escrever nos últimos dias, mas não abandonei.
PS2: quero falar sobre a áudio descrição, mas só falo se prometerem não
me matar no final.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Carta de uma cega aos enxergantes

Querido enxergante, peço por favor que entenda minha revolta,
palavrões e ironias, pois venho, a muitos anos ignorando perguntas
idiotas, dando respostas educadas quando não devia, sendo muito
paciente, com pessoas como você, ditas " normais", então, por favor,
leia de mente aberta, ou pare por aqui mesmo.
Bem, alguns pontos devem ser vistos antes de tudo, cegos, ou a
maioria de nós são apenas cegos, não surdos, não retardados, por isso,
quando for falar com algum de nós, não precisa gritar, não precisa
enfiar os dedos no meio das costelas, eu juro que posso perceber quando
alguém fala comigo, gostaria muito que pudessem entender que o que não
funciona em mim são apenas os olhos, eu sei que para você " normal" a
visão é muito importante, eu sei que você não consegue fazer quase nada
sem olhar, mas eu, por ser cega, acabei me acostumando, e também posso
fazer quase tudo sem olhar, não existe motivo para espanto, só não seja
idiota, caro enxergante, curioso, desinformado eu até aguento ( ou
tento), mas idiota não, por favor, não, como já disse, entendo a
importância da visão para você, mas não seja idiota perguntando ao cego
quantos dedos tem aqui, eu sou cega porra, c e g a, e tenho muita
vontade de mandar a pessoa em questão enfiar os dedinhos no cu, cu, caro
enxergante, eu tenho um e você também, então não precisa, também
perguntar ao cego como ele acha o buraquinho para transar, afinal,
ninguém transa com uma lanterna ou é vaga-lume, que tem luz no rabo, e
para essas coisas não precisa olhar, você está espantado? pois é, cegos
transam, caro enxergante, cegos transam e fazem filho, não precisa ficar
chocado nem perguntar como é que foi que o cego fez o filho, que se você
for adulto e esperto deve saber, filhos de cegos são feitos da mesma
forma que os outros, sem espanto aí.
Outra coisa que me irrita muito são pessoas inconformadas, você acha
triste alguém ser cego? problema seu, eu estou ótima assim, por isso não
precisa chorar, me abençoar ou querer me apresentar para o pastor, pai
de santo ou qualquer coisa que supostamente tem o poder de curar.
E para concluir, as pessoas sempre me perguntam se eu sou feliz,
felicidade, caro enxergante é algo muito complexo e amplo, pois ao
contrário do que muitos acreditam, eu sou um sr igual a você, tenho
sonhos, medos e todos os sentimentos de um ser dito normal, sou feliz
sim, na medida do possível, tenho mais dificuldades não enxergando, é
claro que tenho, mas posso passar por cima, posso inventar maneiras de
fazer as coisas de uma forma conveniente para mim e minha cegueira,
então, por favor, não pergunte nem se espante por eu ser feliz, pois se
eu estivesse afim, já existe cirurgias para reverter meu caso, você pode
achar loucura, mas eu não quero, não quero enxergar, não preciso ver as
coisas para senti-las, para amá-las, não são os olhos que sonham, não
são os olhos que lutam, não são os olhos que amam, lembre-se sempre,
toda a vez que ver um deficiente por aí, seja surdo, cego, cadeirante ou
qualquer outro, que somos muito mais que uma imagem, somos pessoas, com
toda a imensidão que isso possa ser.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Blog de cara nova!

E acontece que eu pensei, e conclui que eu precisava de um blog
novo, um blog para postar tudo, minhas opiniões, receitinhas, porcarias
diárias e tudo o mais, mas aí eu pensei que já tinha um blog, e então,
queridos, de hoje em diante, o Divagações passa a ser não só um blog
para textos, contos e pensamentos, mas passa a ser, definitivamente, o
meu blog pessoal, espero, acima de tudo que divirtam-se!
beijinhos!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Pensamentos em uma madrugada fria

É quando perco o sono que paro para observar minha familia, uma
familia pequena ainda, composta por dois humanos e um cachorro, talvez
se torne maior algum dia, seja com um novo cachorro, seja com um filho,
mas de momento é o que tenho, e é incrível. Fico deitada no escuro
pensando, em um dos meus braços, o cachorro dorme pacifico, segurando
minha outra mão, o amor também dorme, sinto vontade de rir, e de chorar,
a perfeição é tanta, a beleza desses momentos é tanta, que me emociono,
por tudo que fomos, por tudo que estamos sendo e por tudo que ainda
seremos, nunca amei tanto, nunca fui tão amada e tão, tão feliz.

domingo, 26 de junho de 2011

marcas!

Quero deixar marcas em você, marcas profundas, marcas eternas,
marcas das minhas unhas na tua pele, do meu sorriso nos teus olhos, do
meu cheiro em todas as tuas roupas, da minha voz nos teus ouvidos e o
meu gosto na tua boca, deixe-me marca-lo, para ser eterna, para ser
inesquecível.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Cansada de ser

Estava aqui pensando e concluí que eu cansei de ser cega... Não por não
poder ver o mundo, ou não exatamente não por existir preconceito, apesar
de isso me afetar um pouco nem por a sociedade antes de tudo enxergar
minha cegueira, e poucos são os que conseguem, em um primeiro encontro
me ver além da deficiência, eu apenas cansei disso, queria ser "normal"
por algum tempo queria poder andar sozinha, ir no cinema sem que o
segurança do shopping fosse meu acompanhante, queria poder andar nas
ruas, olhar vitrines e parar em uma barraquinha de pipocas sem que
ninguém me perguntasse se preciso de ajuda, queria apenas passar
despercebida, andar no meio de uma multidão sem que as pessoas, por
perceberem a aproximação de um cego desviassem suas atenções para mim,
queria fazer compras, andar pelo super mercado sem a ajuda de um
funcionário, queria apenas fazer coisas sozinha, queria sentir-me apenas
mais uma pessoa qualquer, sem chamar atenções, sem despertar olhares,
sem ser alvo de curiosidade, pena ou qualquer coisa,enfim, sem ser
notada.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

pequenas histórias, parte 5 de infinitas

Ela acordou com o sol batendo em seu rosto, estava deitada no tapete
da sala, e por um momento se questionou o que estava fazendo ali,
depois, as lembranças da noite passada vieram como tempestade forte, e
ela sentiu-se vazia e nojenta como sempre sentia-se no outro dia, as
lembranças eram punhaladas, que doíam, e dava nojo, muito nojo,
lembrou-se de sair de casa, usava um longo sobre tudo preto e saltos
enormes, por baixo do longo casaco, estava vestida apenas com a roupa
íntima preta. chegou no mesmo bar de sempre, era um bar caro e refinado,
como ela gostava, sentou-se em um canto, e bebericava sua bebida
enquanto a banda começava um Blues. viu quando ele adentrou o bar,
magro, alto, não bonito, apenas marcante, era assim que ela havia o
imaginado, desde quando o conheceu pela internet, ela o imaginava
exatamente assim, e por sorte não se enganou. ele caminhou até ela,
pegou-a pela mão e a conduziu para a pista de dança, assim, sem uma
palavra, seus corpos fundiam-se enquanto o Blues rolava, lábios colados,
corpos muito juntos, ficaram por muito tempo assim, ao som do Blues.
saíram do bar, foram para o carro dele, ela entrou, ele abriu seu longo
casaco, puxou a calcinha de lado, e ali, dentro do carro a possuiu,
ficaram na troca de prazer por bastante tempo, até sentirem-se
satisfeitos, esgotados, ela fechou o casaco, e antes de sair, ele
colocou quatro notas de reais entre os seios dela, e foi embora. ela
lembrava de ter tirado a pequena garrafa de conhaque que sempre tinha na
bolsa, bebeu de um gole, pediu um táxi, e agora acordou no chão da sala
do seu apartamento, sentia-se terrível, odiava-se por vender seu corpo
dessa maneira suja, e odiava-se mais ainda por sentir prazer com cada
novo " cliente" semanal, mas ela precisava do dinheiro, sempre
justificava-se dessa maneira, separou as notas, pegou o telefone, discou
o número da farmácia, e pediu como sempre sua caixa de lexotan.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Divagando part 2

Me perco na imensidão turva das minhas memórias, junto pedaços,
recolho restos, considero fatos, construo sonhos, esses ainda não
encontram-se na memória, mas sim no futuro que pretendo trilhar com mais
sabedoria, um futuro que anseio, que torço para que se inicie logo, para
que seja brilhante e feliz, ridículo é quem prega que não mudaria o
passado, eu mudaria sem pensar, agiria diferente se pudesse ver os
resultados, confiaria mais em mim se tivesse podido saber que eu iria
conseguir, choraria menos se eu tivesse podido concluir que as lágrimas
eram desnecessárias, sorriria mais se tivesse podido saber que quando
sorrio, eu me ilumino, e sonharia mais, porque vivo de sonhos, e cheio
de sonhos está o meu passado, presente e futuro.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Divagando parte1

Mudanças são precisas, e completamente difíceis de serem executadas,
a vontade de mudar é imensa, prós e contras são criteriosamente pesados,
espera-se que a balança penda para um lado, e ela se mantem totalmente
equilibrada, pensa-se no passado, no presente e no futuro, esperando uma
solução imediata, e tudo o que se consegue é mais um aglomerado de
dúvidas para um cérebro já conturbado, e aí, o que fazer?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Kid Abelha - Grand' Hotel

Kid Abelha - Grand' Hotel

Se a gente não tivesse feito tanta coisa,
Se não tivesse dito tanta coisa,
Se não tivesse inventado tanto
Podia ter vivido um amor Grand' Hotel.
Se a gente não dissesse tudo tão depressa,
Se não fizesse tudo tão depressa,
Se não tivesse exagerado a dose,
Podia ter vivido um grande amor.
Um dia um caminhão atropelou a paixão
Sem teus carinhos e tua atenção
O nosso amor se transformou em "Bom Dia"...
Qual o segredo da felicidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Qual o sentido da realidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Se a gente não dissesse tudo tão depressa,
Se não fizesse tudo tão depressa,
Se não tivesse exagerado a dose,
Podia ter vivido um grande amor.
Um dia um caminhão atropelou a paixão
Sem teus carinhos e tua atenção
O nosso amor se transformou em "Bom Dia"...
Qual o segredo da felicidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Qual o sentido da realidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Só pra se viver.
Ficar só
Só pra se viver...
Ficar só
Só pra se viver.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Frio!

E o frio vem chegando, ao menos aqui no sul faz um tremendo frio
agora, e com o frio vem os resfriados, dores de garganta, tremedeiras
desconfortáveis, preguiça constante, suplício para tomar banho ou apenas
tirar a roupa, e todas essas coisinhas extremamente desagradáveis, mas
com o frio também vem o chocolate quente, os finais de semana passados
enrolado em um cobertor, preferencialmente muito bem acompanhado,
aumenta os abraços, a necessidade de ficar perto, assim, juntinho
passando calor, vem as roupas lindas ( e caras), os jantares regados com
vinho, as pantufas fofas que eu adoro, e por todos esses motivos bons eu
adoro o frio, gosto do calor também, claro que gosto, praia, piscina,
sucos, passeios ao ar livre, é tudo uma delícia, uma maravilha, mas no
calor não dá pra dormir abraçadinho ( ao menos para quem não tem um
ar-condicionado), porque vai esquentar, irritar, e fica impossível, e é
pelo dormir mais perto, por essa necessidade toda de aconchego que eu
realmente adoro o frio, e apesar dos pesares, da pele que fica terrível,
dos meus pés que congelam, da boca que racha lindamente, seja bem-vindo,
friozinho! =D

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Hoje eu queria

Eu queria, andar com você, de mãos dadas, passear pela rua, ver
vitrines, rir das pessoas, atravessar correndo, entrar em um café legal,
sentar em um canto, pedir um capuccino e um bolo de limão, te ouvir
falar, contar, rir, falar besteiras sem sentido, e tomar o café, com meu
passa tempo preferido, você.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A noite que é minha

Cai a noite em mim, meu pensamento se fecha qual janela ao cair da
noite, e a escuridão me abraça forte, e tudo se faz escuro é noite
serrada, escura e negra em mim, não tem lua, não tem estrelas, não tem
brilho, é só a noite, escura, negra, sombria, sufocante seus braços me
seguram determinados, e eu não reajo, apenas me entrego, passiva,
confortada.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Saudade infinita

O que mais dói é te ver e não te ter, é querer te sentir e não
conseguir, é a saudade do teu abraço, que me confortava, que me
protegia, que me acalmava, e que agora dói, dói toda vez que tento te
abraçar, é a falta do teu toque tão suave, que me embalava, e agora me
corta, corta e sangra, e dói, é a falta da ansia de te esperar chegar,
de ouvir teus passos e a chave girando, que agora foi transformada em
dor, em vazio, em nada, é a falta de te sentir só meu, unicamente meu,
em pensamentos, ações e todo o resto, e saber que nunca o foi dói, é a
falta de me sentir amada, querida, desejada, não decepcionada, enganada,
inútil, é a falta de tudo isso o que mais machuca, e a certeza de que
nunca mais será assim outra vez.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Eu e a dor

Estou aprendendo a conviver com a dor, ela que é tão intensa, tão
forte, tão insistente, de vez enquando quase esqueço dela, sorrio, volto
ao meu antigo normal, a não ser por uma pequena ponta que insiste em me
ferir de leve, lembrando que ela vai sempre estar aqui, comigo, em
outros momentos me entrego para ela, deixo seus braços gélidos me
abraçarem forte, me envolver e me transportar para o seu mundo frio e
sombrio, e aí choro, grito, extravaso ao máximo, e ela me fere, me rasga
e me sangra, impiedosa, voraz, cruel, terrível, tento me desvencilhar
dela, tento correr, mas suas garras são longas e conseguem sempre me
encontrar, sempre me ferir e lembrar que desde então, a dor e eu fazemos
parte uma da outra, iremos viver sempre juntas, eu fugindo, ela me
rasgando, nós lutando uma contra a outra, e normalmente, a vencedora é
ela, não eu.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Decepcionada

Estou decepcionada, realmente, muito decepcionada, sempre entendi o
amor, seja ele de qualquer forma como uma troca mutua de respeito, de
dedicação e consideração entre as partes envolvidas, e quando não é isso
o que recebemos, acabamos decepcionados, frustrados, humilhados e
tristes, e aí não adianta pedir desculpas, não adianta chorar e
implorar, posso até perdoar, creio que farei isso, pode ser hoje, pode
ser o mês que vem, mas vai acontecer, cedo ou tarde, e aí vamos fingir
muito bem, vai ficar tudo bem e nossas vidas irá voltar ao curso normal
das coisas, mas no fundo vai existir sempre a mágoa, a raiva e a
frustração, porque um dia você me decepcionou.

domingo, 3 de abril de 2011

Pequenas histórias, parte 4 de infinitas

Embrulhado nos cobertores, pacificamente ele dorme, e ela o observa,
é tão belo como outro para ela nunca o será, é tão puro e suave,
dormindo como um bebê. ela toca sua pele, tão quente e delicada, e ele
se move no sono, e ela rapidamente afasta a mão. ela o contempla calada,
só deixando o amor inunda-la. toca um caracol do seu cabelo, tão macio e
bonito, e sente vontade de beija-lo, toca seu rosto suavemente, sente os
contornos suaves da face como fez na primeira vez, e aí, sente-se plena.
lembra de toda a vontade que sentia de estar com ele, de todo o amor que
já sentia por ele, mesmo antes de se conhecerem pessoalmente, lembra do
primeiro encontro, da emoção indescritível, e da saudade louca que ele
deixou depois, lembra de todas as dificuldades que enfrentaram para
ficarem juntos, de todas as mudanças drásticas em sua vida, e dos
momentos incríveis que vive no presente, e não se arrepende de nada. sem
conter-se mais, ela o abraça delicadamente, cuidando para não o acordar,
e suavemente o beija no rosto, antes de virar-se e dormir também.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Tango

Era uma cena perfeita, no centro do palco, um lindo casal, ela, tão
linda e pura no sensual vestido azul, seu corpo esguio, pele alva e
longos cabelos negros, caindo em uma perfeita cascata de caracóis, ele,
tão belo e alto, o terno de corte perfeito e tecido negro, contrastava
com o vestido azul dela.
No canto do palco, um outro casal, praticamente escondidos pela
penumbra, percebia-se apenas o enorme piano, no qual a mulher achava-se
sentada, e ao seu lado, alguém escondido pela obscuridade segurava um
acordeon. o piano tocava com suavidade, o som ampliando-se aos poucos, o
casal aproximava-se lentamente, o piano dava embalo ao tango, e o casal
começava a dançar, a música crescia, o piano suave e intenso, o acordeon
marcando o ritmo perfeito, o casal em total sincronia. os corpos do
casal misturavam-se, azul com preto, preto com azul, as formas esguias
da mulher fundindo-se com a beleza do homem, toda a sensualidade da
dança, o total contraste dos instrumentos, o casal bailando com
perfeição, os cabelos dela voando delicadamente, a luz fraca que
iluminava o centro do palco, tudo era lindo, tudo era mágico. a música
diminuía lentamente, e com ela o ritmo do casal, o piano suavemente
parou de tocar, o acordeon logo depois, o casal beijou-se
apaixonadamente, e as cortinas do teatro lentamente foram se fechando...

terça-feira, 29 de março de 2011

Pequenas histórias, parte 3 de infinitas

Chovia forte, sua figura contra a janela era invisível para quem
olhava do lado de fora. ela estava ali já fazia horas, ficou remoendo os
fatos amargamente, ele havia ido embora, e ela sabia que era para
sempre. tinham brigado, é verdade, ela falou coisas horríveis e ele mais
ainda, gritaram um com o outro até suas gargantas ficarem doloridas, ele
acusava ela e suas futilidades pelo término do relacionamento, ela
acusava ele e sua falta de tempo. quando ambos concluiram que só estavam
se ferindo ainda mais, pararam de discutir, ele, ainda irritado foi
fazer as malas, e ela machucada, apenas chorou. ficou parada na janela
olhando ele partir, viu a chuva caindo, viu ele colocar as malas no
carro, viu ele abrindo o portão e saindo, gritou por ele, gritou e
gritou, mas os sons provocados pela forte chuva impediram que sua voz,
já cansada chegasse até ele. e então ele foi embora... apesar do
relacionamento ter acabado, ela ainda o amava, não o mesmo amor de
antes, mas ainda o amava de alguma forma. continuou olhando pela janela,
e agora ela já não sabia mais o que molhava seu rosto, se era a água da
forte chuva, ou se eram suas lágrimas, que brotavam em cascata de seus
olhos.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Presenteia-me

Corre pela vastidão das tuas memórias e volta aqui, desenha nosso
amor numa tela e me entrega, transforma teus desejos em ação e
realiza-os comigo, deslisa na lembrança do meu sorriso que eu sorrio
outra vez, canta a nossa canção que eu danço contigo, constrói teus
sonhos lentamente e me inclua em todos, me guia pelos caminhos da tua
vida que eu te dou a mão, entra de rompante no meu mundo que ele está
guardado só pra você...

Pequenas histórias, parte 2 de infinitas

Naquele dia ele chegou tarde, tão tarde como não chegava a muito
tempo, era uma pessoa influenciável, e fora esse maldito defeito que o
fizera beber alem da conta, sempre havia um ótimo amigo para encher sua
taça de vinho, sempre tem um amigo para convidar para uma doze de
conhaque. entrou em casa, acendeu as luzes, cambaleou até a sala, e lá
parou e fixou o enorme quadro com olhar apaixonado. seu coração sempre
se apertava ao olhar para aquela imagem, a mulher tão bem desenhada, de
pele alva e longos cabelos dourados, emoldurados por um rosto delicado,
olhos azuis e lábios rosados, usava um lindo vestido branco, que
contrastava perfeitamente com o corpo de curvas femininas e sensuais, e
ele pensava: " ah, se pudesses deixar esse quadro e dançar comigo!" e
como em um sonho, viu a mulher abandonar a moldura dourada da parede e
aproximar-se dele com andar lento e provocante, uma doce melodia surgiu
no ar, e ele e a linda mulher rodopiaram em perfeita sincronia pela
vasta sala, ele sentia o cheiro suave dela, o corpo moldado no dele, o
toque suave do vestido, e seu coração transbordava de amor, um amor tão
grande e profundo, que o obrigava a aperta-la com força no seu próprio
corpo. a música findou derrepente , ela enlaçou o pescoço dele, e
audaciosamente lhe ofereceu os lábios rosados, e então ele acordou,
estava no chão da sala, completamente vestido, e concluiu que pegara no
sono antes de rumar para o quarto. e a mulher do quadro continuava lá,
tão perfeita e bela como ele havia sonhado, mas continuou parada,
fixando o nada, envolvida pela moldura dourada do quadro na parede.

domingo, 27 de março de 2011

Divagações sobre um piano.

Abro minha alma diante dessas teclas antigas, meus dedos correm
suavemente pelas notas no piano, dentro de mim, a tão incrível
felicidade que sempre me acompanha quando desliso pelas notas, é nessas
teclas antigas que eu me encontro, me perco e me encontro novamente, só
para me perder outra vez em alguma partitura esquecida. sentada diante
do piano deixo meus sentimentos fluírem livremente, todos os que escondo
das pessoas tão habilmente, aqui os deixo saírem, os deixo
transformarem-se em melodia, em música límpida. em muitos momentos, meu
sorriso e minhas lágrimas se misturam de uma forma tão louca que eu não
consigo mais separa-los, e é então que a música vai saindo perfeita, sem
partitura, sem forçar o pensamento. apenas solto minha mão e deixo a
música me bater como uma onda forte, deixo as notas correrem livres,
deixo tudo o que sou escondido nessas teclas antigas do piano, até eu me
sentar aqui novamente, juntar os restos que sobraram, e compor uma nova
música.

Pequenas histórias, parte 1 de infinitas

Ela o esperava
deitada no sofá, ouvindo um CD de Jazz,
trajava uma sexi camisola de renda vermelha, por baixo disso, estava
nua.
o tecido vermelho fazia contraste perfeito com a pele imaculadamente
branca e aveludada,
cabelos soltos, corpo esticado em uma posição lânguida, ela o esperava.
essa noite ela queria surpreende-lo,
vinho gelando, morangos frescos, ambiente a meia luz,
música baixinha, um cheiro de incenso,
era o cenário perfeito para a transa louca que insistia em povoar seus
pensamentos.
ela o esperava. já haviam se passado mais de duas horas do horário
habitual de sua chegada,
será que ele estava bem?
será que aconteceu alguma coisa?
ela se perguntava, entre pensamentos que se mesclavam entre transas deliciosas e uma
preocupação amorosa.
até que enfim ele chegou,
ela ouviu com ansiedade crescente a chave girar, o fechar suave da
porta, os passos seguros dele na entrada,
já imaginava ele entrando de rompante, beijando-a com desejo, tirando
sua camisola vermelha e possuindo-a, ali mesmo, em cima do sofá.
já imaginava os sussurros, as carícias, e o calor aumentava entre suas
pernas.
ele apareceu na sala, ligou a luz bruscamente, e um pouco do encanto do
ambiente instantaneamente desapareceu,
disse um olá sem emoção, desligou o CD de Jazz e ligou a TV no futebol,
caminhou para a cozinha, voltou de lá trazendo uma generosa taça de
vinho e a tigela de morangos,
sentou-se no outro sofá, bebeu o vinho e comeu os morangos,
e só depois do futebol acabar, dos morangos e o vinho também terem
acabado foi que ele olhou para ela diretamente.
ria as gargalhadas dos trajes dela, chamou-a de inadequada, gorda e
muito velha para essas coisas,
ainda rindo, a fez levantar do sofá, ergueu a camisola e deu-lhe um
violento tapa no traseiro,
não preocupou-se em recolocar a camisola no lugar, e pediu para que ela
preparasse o jantar.
engolindo a frustração e o ódio ela foi para a cozinha, a raiva
fazendo-a borbulhar, preparou o jantar com o mesmo cuidado de sempre,
arrumou tudo em uma bandeja,
e antes de deixar a cozinha pegou o telefone,
ligou para aquele colega de trabalho encantador que a vários meses a
convidava insistentemente para sair,
arrependeu-se de nunca ter aceitado, bastou uma frase e tudo estava
feito,
foram poucas palavras ditas por ela,
apenas um:
" me espere amanhã após o expediente no motel da quadra ao lado."